29.11.08

Afinal ele existia

Há dois anos, num trabalho sobre a Linha da Vouga para o jornal Maré Viva, dizia-me um dos maquinistas da CP que o "Vouguinha", "já não era linha para o nosso tempo". Na altura fui até à estação de Espinho e nem quis acreditar no que vi: um edifício moribundo, pejado de lixo e de rabiscos, dois contentores onde funcionam os serviços, um comboio sem ninguém, em suma, um cenário agreste, isolado no tempo e perdido no espaço.
Hoje a coisa não está melhor, mas de repente, as autoridades lembraram-se de que o vouguinha existia e....fazia cem anos de idade. As comemorações incluíram viagens à borla, recriações históricas, bandas de música e ranchos folclóricos. O mais folclórico talvez tenham sido mesmo os dez milhões de euros de investimento anunciado pelo governo. Francamente não entendo o investimento. Se não é para se proceder a uma requalificação ampla e estruturada, para quê gastar dez milhões de euros na supressão de passagens de nível e no desnivelamento de outras?
Há dois anos, quando o PCP propôs, tanto em Stª Maria da Feira como em Espinho, a requalificação da Linha do Vouga toda a gente achou um profundo disparate, especialmente o presidente da câmara da Feira, que dizia na altura que o Vouguinha não servia as populações do concelho. O mesmo presidente participou agora das comemorações e mostrou-se congratulado com o investimento para o reforço da segurança. Por outro lado, continua a chover no molhado e a reclamar uma ligação ao Metro do Porto. Ora, se o seu executivo é o primeiro a rejeitar uma ligação ferroviária a Espinho e indirectamente à rede de suburbanos do Grande Porto, para quê tanta insistência? (a pergunta é retórica, mas a resposta seria óbvia)
Já em Espinho o Vouguinha foi perfeitamente ostracizado. Rejeitado pela obra do século, ocupa um lugar sem sentido na malha urbana, numa zona que deverá tornar-se numa nova centralidade. No futuro, ou será um enorme estorvo, a confirmar-se a intenção do governo em não abandonar a linha, ou será uma grande jogada de estratégia política, que antecipou em vários anos o seu desaparecimento.

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