31.12.08

FeLiZ AnO NoVo


envergonhada

Todos sabemos que o SAP (Serviço de Atendimento Permanente) foi encerrado em Espinho há sensivelmente um ano. Em contrapartida, o protocolo assinado entre a Câmara Municipal e o Ministério da Saúde previa a existência de uma viatura de emergência no Hospital 24horas por dia, de modo a assegurar o transporte em casos de urgência.

Era o caso do Professor que morreu no passado dia 12 de Dezembro na Escola Secundária do Dr. Manuel Gomes de Almeida, a uns parcos 50 metros do referido hospital. Mas o Senhor inacreditavelmente não teve direito a qualquer auxílio médico, porque não havia uma viatura adequada em Espinho, Gaia e Santa Maria da Feira que o conduzisse ao Hospital Central.

O triste acontecimento levantou o alvoroço que o caso merece e chegou à Assembleia Municipal. PSD, CDS, CDU e BE reclamaram pela imediata rescisão do protocolo que levou ao encerramento da Urgência. O PS, em maioria – e naturalmente – votou contra. Outra coisa não seria de esperar. O que não esperava, confesso, era deparar-me com as declarações que são atribuídas ao Presidente da Câmara de Espinho no Jornal de Notícias de Segunda-Feira. De acordo com o diário, José Mota criticou (...) ninguém se ter lembrado de levar o Professor até ao espaço da consulta aberta. “Tenho a certeza que lá o Professor teria sido ajudado, isto porque aquele serviço em nada está diferente do antigo SAP.”

Quero acreditar que se trata de mera ignorância da realidade do Serviço Nacional de Saúde, mais propriamente das condições dos serviços asseverados pelos Centros de Saúde deste país. Talvez o Senhor Presidente não saiba que estas unidades não estão prevenidas para este tipo de ocorrência, embora o Director do Centro de Saúde de Espinho já o tenha dito. Talvez o Senhor Presidente não saiba que as pessoas que estavam na Escola naquele dia fizeram o que puderam para salvar a vida ao Professor, que fizeram o melhor que sabiam e tinham obrigação de fazer. Ninguém pegou no Senhor e o levou a uma unidade médica, porque isso seria irresponsável e imprudente. Pode não saber, embora devesse, que quem falhou aqui não foram essas pessoas, que assistiram, impotentes, ao falecimento do Professor - foi o serviço que o Executivo garantiu aos espinhenses.
O Senhor Presidente José Mota podia simplesmente ter lamentado o sucedido, admitir a falha do (fraco) serviço de transporte urgente a que destinou a população de Espinho e prometer o seu melhoramento. Era o que lhe bastava para ficar bem na fotografia. E, já agora, sossegar os utentes, que por esta altura certamente questionam com legitimidade a sua segurança. Mas não. Preferiu sacudir a água do capote e responsabilizar os únicos que fizeram alguma coisa por aquela vida. Lamentável.
Quanto a vocês, não sei. Eu só consigo sentir-me envergonhada.
aa

29.12.08

Não há fome que não dê em fartura

Não me vou repetir em relação à questão das grandes superfícies, shoppings, centros comerciais e afins, no concelho de Espinho - é um tema gasto e resultante de uma visão anacrónica. No entanto gostaria apenas de lançar aqui um ponto para reflexão, uma vez que, após o anúncio da criação de um shopping na antiga fábrica da Corfi, são já dois os projectos em marcha de grandes superfícies em Espinho. O segundo, está pensado no plano de pormenor para o estádio do Sp. Espinho e tem a chancela de Américo Amorim.
Em relação ao primeiro, estão disponíveis aqui imagens do projecto. E, para quem duvida da instalação de um dolce vitazinho em Espinho aqui fica uma entrevista interessante do presidente do SCE, Rodrigo dos Santos.

26.12.08

Eles sonham, a obra nasce

Quando a Solverde ordena, não há obstinação que impeça o executivo de obedecer. Ainda há poucos dias aqui postei sobre a peregrina intransigência da Câmara de Espinho em relação às grandes superfícies, essas criações do diabo que fustigam as lojinhas da esquina. Pois, subitamente, algo mudou para os nossos responsáveis políticos para admitirem semelhante enormidade, como revela, em primeira-mão, o jornal da Solverde na passada semana. O que mudou, meus caros leitores, foi que imperou a vontade da família Violas em tornar rentável o defunto espaço da Corfi. E como sabemos, por aqui, semelhante vontade dita a lei.
Não tenho absolutamente nada contra a ideia, aliás sou defensor há muito da instalação de uma grande superfície no concelho. O que não aprecio, no entanto, é a incoerência política uma vez mais patenteada. Além disso, temo que a medida tenha sido aprovada tarde demais.

em alta velocidade para o abismo

O TGV, que se anuncia, é talvez o investimento público mais estúpido de toda a história do nosso país. O enorme espírito de Natal dos portugueses, associado aos seus tradicionais brandos costumes, não chega para tolerar tão enorme disparate.

O TGV não cumpre qualquer regra mínima a que se deve submeter um investimento. Não é nem nunca será economicamente rentável. Não induz efeitos reprodutores positivos, não gera sinergias na actividade económica. E, por fim, não tem a mínima utilidade social.

Então, para que serve? Para que Portugal não fique arredado das rotas do desenvolvimento, como nos querem fazer crer? Este é o mais falacioso dos argumentos. Se o TGV gera riqueza, então por que razão os países com os mais elevados índices de desenvolvimento humano - a Noruega, a Suécia, a Irlanda, ou até a Austrália e o Canadá - não têm alta velocidade ferroviária?

A grande velocidade, já hoje se encaminha o país para o abismo. Vem aí o TGV, o empurrão que faltava para o descalabro total.

Nem mais, nem menos. Continuar a ler aqui.
aa

23.12.08

Em (não) defesa das urgências

O triste episódio com o INEM, fez com que se levantassem vozes de apelo à reabertura do serviço de urgências em Espinho. Pode ser uma posição controversa mas eu sou favorável à suspensão definitiva das Urgências, por diversas razões:

1- Espinho não tem população residente que justifique a manutenção de um serviço 24 horas por dia.

2- Os custos de um serviço de urgências permanente, são incomportáveis para um hospital com a dimensão do de Espinho.

3- A curta distância para o hospital de Gaia - ainda menor no período das 24 às 8h - minimiza os efeitos negativos que a ausência do serviço pode provocar.

Estas, no entanto, não implicam que se actue de forma laxista no atendimento urgente e implicam, num outro prisma, que sejam asseguradas contrapartidas reais para os utentes espinhenses, que não uma solitária viatura de emergência.

19.12.08

Visão tradicional do comércio

Apetece-me dizer que não existe comércio tradicional em Espinho mas sim, uma visão tradicional de comércio, com dois responsáveis muito concretos: a autarquia e a Associação Comercial de Espinho.
Na obstinação de manter "vivo" o comércio na cidade, a Câmara não cede um milímetro na eventual criação de uma grande superfície em Espinho. A esta posição não está alheia, evidentemente, a promiscuidade existente entre o executivo e a Associação Comercial, que se traduz no paradoxo de, esta instituição, não preservar os interesses dos comerciantes mas antes, preservar o seu status político, como se vê nesta questão última dos parquímetros. Haverá medida mais nefasta para os comerciantes do que a colocação de parquímetros em todo o centro urbano, sem haver outras alternativas?
Falo em obstinação, porque se trata, em si mesma, de uma posição intransigente e absolutamente questionável. O comércio tradicional em Espinho está estagnado, à espera de uma injecção de vitalidade que não chega de nenhum lado. As grandes superfícies florescem nos concelhos vizinhos, mesmo nas fronteiras geográficas do nosso concelho, como é o caso do Modelo em S. Félix da Marinha, atraindo poder de compra e mão de obra...espinhense! Depois não adianta defender com unhas e dentes o comércio tradicional e depois dar-lhe de presente envenenado, uma requalificação urbana parcial, a ausência de parques de estacionamento, ou as obras intermináveis do rebaixamento da ferrovia. Se não houver uma inversão nesta política, temo francamente que caminhemos para o definhamento do comércio tradicional em Espinho.

15.12.08

Inacreditável - onde estava o ti-nó-ni?

Estou absolutamente chocado com a morte do professor da ESMGA, na passada sexta-feira. Houve uma negligência grosseira da parte do INEM, que atendendo à gravidade da situação a geriu com indiferença; houve um evidente laxismo do CODU na comunicação que prestou aos Bombeiros Voluntários de Espinho e pior de tudo, o Hospital de Espinho (que dista uns enormes 50 metros da escola) alegadamente, não tinha um fármaco que se deve ministrar a pessoas que entram em paragem cardio-respiratória. Perante semelhante irresponsabilidade que custou uma vida, só se pode reagir com a mais profunda indignação e revolta.
Intrigou-me ainda um aspecto mencionado nos media, que tem a ver com o facto de não ter havido uma viatura do INEM disponível...em Gaia e na Feira! Mas afinal não existe uma viatura de emergência (VMER) em Espinho? Ela foi, de resto, uma das contrapartidas do Governo pelo encerramento das urgências e, já agora (digo isto com conhecimento de causa, uma vez que acompanhei, na altura, a celebração do protocolo entre a Câmara de Espinho e o Governo, para o jornal Maré Viva), foi uma das medidas que mais convenceram o executivo autárquico a ceder nessa questão. Recordo-me, a propósito, do membro da Assembleia Municipal, Jorge Carvalho, se ter referido de forma cáustica a esta bendita troca, dizendo que o presidente da Câmara estava muito satisfeito porque lhe tinham dado "um ti-nó-ni"!!!! É caso para perguntar...onde raio estava o ti-nó-ni?

11.12.08

Cada vez mais complexo

Perdoem-me mas a palavra "complexo" começa a fazer parte de um certo léxico do "quadradinhos". Isto porquê? Por culpa de um “Complexo de Ténis de Espinho”, cujo nível de complexidade transcende o do próprio nome.
Há cerca de dois meses fiz uma entrevista com a ex-campeã nacional de ténis, Ana Catarina Nogueira, que durante dois anos foi coordenadora de treino daquela infra-estrutura. Resumidamente, a Ana foi despromovida das suas funções pela nova direcção técnica que havia, por sua vez, sido indigitada pela administração do Complexo por sugestão da Câmara Municipal de Espinho, que também não estava contente com o rumo que a coisa levava. Acontece que, em dois anos, a treinadora conseguiu os melhores resultados nacionais que a Academia e a Escola de Ténis de Espinho alguma vez teve. Pelos vistos não foi suficiente e a Ana Catarina foi convidada a treinar miúdos de iniciação, ou seja, daqueles que mal podem com a raquete. Escusado será dizer que ela não aceitou tão estimável convite.
Esta é mais uma história do enorme rigor e profissionalismo com que a coisa pública é gerida aqui no nosso pequeno reduto. Em Espinho, curiosamente, existem instituições que têm competência técnica e know-how para gerir um verdadeiro equipamento de ténis orientado para a formação de atletas. É o caso do Clube de Ténis de Espinho que recentemente comemorou o seu aniversário e que (espantem-se)....se queixou de não ter instalações próprias para desenvolver a sua actividade! Perante tudo isto, a autarquia prefere que seja a ADCE a explorar o Complexo, talvez para manter alguns gestores em part-time, que se dedicam a outras actividades profissionais e raramente põem os pés nesse tal....Complexo. Digam-me lá se esta cidade não é esquizofrénica?

Os novos donos da cidade.
Os parquímetros já lá estão...mas...
e os parques subterrâneos, são para quando?

9.12.08

um belíssimo cartão de visitas V

E eis senão quando, aos 9 dias do mês de Dezembro de 2008, têm início as obras na rotunda.
O nosso sentido de oportunidade nesta matéria tem sido notável, ah?
aa

5.12.08

um belíssimo cartão de visitas IV

Máquinas já temos há uns dias estacionadas junto à flamigerada rotunda. Já só falta quem as ponha a trabalhar.
Oxalá cheguem antes do prazo estabelecido para a conclusão da obra, que se bem me lembro é o final do ano. Pois.
Serei a única a duvidar que (mais uma vez) os prazos não vão ser cumpridos?
aa

recomendamos


O Segredo

pela O.T.E. [Oficina de Teatro de Espinho]
Dia 14, no Centro Social Luso Venezuelano

3.12.08

Tiques de cidade grande


Ao estafado slogan sobre Espinho ser "uma cidade grande, sem os problemas de uma grande cidade", eu respondo que Espinho é antes "uma cidade pequena, com manias de cidade grande". Vem este comentário a propósito da colocação de parquímetros em todo o perímetro urbano, se bem que esta coisa do perímetro urbano em Espinho é sempre um conceito difuso. Veja-se que, por exemplo, a requalificação urbana só abrangeu o perímetro compreendido entre a rua 15 e a 23, enquanto que os parquímetros estão num perímetro ligeiramente mais alargado. Ou seja, quando é para gastar dinheiro convém que o perímetro seja estreito, mas quando é para sacar dinheiro aos automobilistas, o perímetro já é extensível a toda a cidade.
Os parquímetros surgem com o pretexto de serem um agente disciplinador do estacionamento no centro da cidade. Em primeiro lugar não acredito que sejam disciplinadores de coisa nenhuma, uma vez que eles estarão por toda a cidade e não estarão em pontos estratégicos do (agora sim) perímetro urbano, onde o estacionamento é caótico. Depois, em Espinho, não existem alternativas ao estacionamento no centro urbano, nem para moradores, nem para comerciantes, muito menos para as pessoas de fora. No fundo, o que não existe é estacionamento e isso não se combate com parquímetros supostamente moralizadores. Por fim, eu sou daquelas pessoas que quando se desloca ao Porto de comboio, deixo o carro na zona próxima à estação. Creio que é assim que fazem centenas de pessoas que se deslocam diariamente ao Porto a partir da nossa cidade, como tal não entendo a colocação de parquímetros naquela zona. Estará o município à espera que as pessoas paguem um parquímetro o dia todo? Eu não pago seguramente e acredito que os outros utentes do comboio também não. Além do mais, ninguém de bom senso acredita que esta seja uma medida interventiva ou disciplinadora. Por exemplo, não vai disciplinar o estacionamento nas imediações da "obra do século", que continuará a ser um local privilegiado para o estacionamento abusivo, até lá se fazer alguma coisa. Como tal, a verdadeira moral da história é que esta medida servirá apenas para aumentar as receitas extraordinárias da autarquia.

29.11.08

Afinal ele existia

Há dois anos, num trabalho sobre a Linha da Vouga para o jornal Maré Viva, dizia-me um dos maquinistas da CP que o "Vouguinha", "já não era linha para o nosso tempo". Na altura fui até à estação de Espinho e nem quis acreditar no que vi: um edifício moribundo, pejado de lixo e de rabiscos, dois contentores onde funcionam os serviços, um comboio sem ninguém, em suma, um cenário agreste, isolado no tempo e perdido no espaço.
Hoje a coisa não está melhor, mas de repente, as autoridades lembraram-se de que o vouguinha existia e....fazia cem anos de idade. As comemorações incluíram viagens à borla, recriações históricas, bandas de música e ranchos folclóricos. O mais folclórico talvez tenham sido mesmo os dez milhões de euros de investimento anunciado pelo governo. Francamente não entendo o investimento. Se não é para se proceder a uma requalificação ampla e estruturada, para quê gastar dez milhões de euros na supressão de passagens de nível e no desnivelamento de outras?
Há dois anos, quando o PCP propôs, tanto em Stª Maria da Feira como em Espinho, a requalificação da Linha do Vouga toda a gente achou um profundo disparate, especialmente o presidente da câmara da Feira, que dizia na altura que o Vouguinha não servia as populações do concelho. O mesmo presidente participou agora das comemorações e mostrou-se congratulado com o investimento para o reforço da segurança. Por outro lado, continua a chover no molhado e a reclamar uma ligação ao Metro do Porto. Ora, se o seu executivo é o primeiro a rejeitar uma ligação ferroviária a Espinho e indirectamente à rede de suburbanos do Grande Porto, para quê tanta insistência? (a pergunta é retórica, mas a resposta seria óbvia)
Já em Espinho o Vouguinha foi perfeitamente ostracizado. Rejeitado pela obra do século, ocupa um lugar sem sentido na malha urbana, numa zona que deverá tornar-se numa nova centralidade. No futuro, ou será um enorme estorvo, a confirmar-se a intenção do governo em não abandonar a linha, ou será uma grande jogada de estratégia política, que antecipou em vários anos o seu desaparecimento.

26.11.08

A excepção que confirma a regra

Quem assistisse à mesma sessão que eu no Cinanima, ficava com a impressão de que Espinho é uma cidade com vida cultural. Sala esgotada, animação no foyer do Multimeios, conversas amenas sobre o festival, música ao vivo, exposições paralelas, etc. Subitamente, a cidade mobilizava-se em torno de um acontecimento cultural de qualidade e com público. Acontece que, com grande pena minha, aquele exemplo não constitui a regra por cá.
Espinho reúne condições – que, por exemplo (e a comparação não é gratuita), Santa Maria da Feira não tem, e dificilmente terá nos próximos anos, para ter uma oferta cultural rica e diversificada. Tem infra-estruturas, tem público interessado e consumidor de produtos culturais, tem turismo, tem praia e Verão, mas falta-lhe o mais importante: não tem vontade política para que isso aconteça. Agora e pegando na comparação de há pouco, veja-se o fosso olímpico que distancia Espinho e Feira neste pormenor. Aposto que não há um espinhense que ainda não tenha ido à Viagem Medieval. Aposto que há milhares de espinhenses que nem se lembram que o Cinanima existe (e nem preciso de recuperar as razões que aqui já invoquei para justificar esta análise).
Podem-me colocar todos os argumentos para legitimar esta situação. Estamos perto de um enorme pólo cultural que é o Porto (a Feira também está), o público em Espinho é escasso (deve ser por isso que sempre que vou a um concerto ao Porto vejo dezenas de pessoas de Espinho), não existem espaços suficientes (mas...o Multimeios?....o defunto S. Pedro?....o decrépito FACE?....o Auditório da Academia?)....entre muitos outros absolutamente desculpabilizantes daquela que é a única justificação para a ausência de uma política cultural estruturante e coerente: incompetência política.
Peguemos no caso do Centro Multimeios. Foi inaugurado em 2000, como uma infra-estrutura polivalente, que reunia, ao mesmo tempo, cinema, ciência, arte, música, etc. Logo à partida, partiram de um pressuposto errado: julgou-se que haveria público para o cinema, ainda para mais para um género de cinema (o de grande formato) que não existia no país e ao qual o público não iria ligar patavina, como veio a acontecer. Para além disso, faltou outra óbvia asserção: numa altura em que o cinema explodia nas grandes superfícies, seria um suicídio financeiro apostar no cinema comercial, com apenas uma sala e a oferta de um filme por semana. Mas, o maior erro de todos, é quase desconhecido da maioria das pessoas que contemplam, de fora, a (já algo gasta) beleza do edifício: a acústica do auditório do Multimeios não foi preparada para receber mais nada...a não ser cinema. Ou seja, tudo o que for peça de teatro ou espectáculo de música, nunca terá condições acústicas ideais para se realizar naquele espaço. Para cúmulo (e até os responsáveis o admitem), as distribuidoras do circuito comercial de cinema obrigam a que o Multimeios faça duas exibições por dia, aniquilando qualquer possibilidade de o auditório ser usado para outros fins.
Creio que o exemplo é, por si só, elucidativo. Recentemente fui a Guimarães e visitei um espaço verdadeiramente multidisciplinar, em que (que luz terá iluminado os seus criadores?!!!) o mesmo edifício reúne um auditório, um café concerto, um club para musica electrónica, uma biblioteca....uffa....e uma galeria de arte. Em Espinho, uma coisa de cada vez: primeiro um "multimeios" inútil, depois e trinta metros ao lado, uma biblioteca! Notável.

25.11.08

Cinanima

Já vem um pouco tarde o comentário, mas fiquei absolutamente deliciado com a curta-metragem que ganhou a última edição do Cinanima, "House of small cubes", do japonês Kunio Kato. Uma história intemporal e de forte simbolismo, sobre um homem que vai refazendo a construção da sua casa à medida em que esta submerge com a subida do nível das águas. Munida de um escafandro a personagem principal, percorre mais tarde todas as camadas de construção, mergulhando, literalmente, nas suas memórias e nas vivências afectivas e familiares.
Não consegui encontrar nenhum excerto do filme na net, mas fica aqui um dos filmes que mais gargalhadas arrancou na última noite do Cinanima.

18.11.08

Um novo conceito de complexo desportivo

O famigerado estádio e toda a lengalenga que o envolve, continuam a despertar a minha atenção, pelo que apresento, desde já, sinceras desculpas aos leitores menos empolgados com o tema. Não posso, no entanto, negligenciar uma nova contradição no discurso dos dirigentes do S.C. Espinho, em particular do seu presidente, Rodrigo dos Santos, sobre esta questão. Ora, muito recentemente, chamei aqui a atenção para um pormenor de grande importância relativamente à construção do estádio: o facto de ele não contemplar, no seu projecto inicial, a criação de campos de treino relvados para as camadas jovens e de um pavilhão para as modalidades.
O presidente do SCE, porém, na cerimónia solene de comemoração dos 94 anos do clube, falou, uma vez mais em "complexo desportivo", bem como a presidente da assembleia-geral, Graça Guedes, que afirma, peremptoriamente, que a construção do dito complexo "não é uma utopia". O que ninguém explica a estes dirigentes é que um "complexo desportivo" não é o mesmo que um "estádio" e que uma casa não se começa a construir pelo telhado. Num clube que necessita de reedificar as suas bases para o futuro, o mais importante não é criar estádios, mas sim estruturas polivalentes que sirvam todas as modalidades do clube, nos seus diferentes escalões.

14.11.08

Passa(rá) disso em Paramos?

Ainda não tive oportunidade de ir ver o passadiço na praia de Paramos, como tal, desconheço a sua exacta localização, extensão e forma. Isto também, porque os panfletos (também conhecidos por jornais) locais se limitaram a dizer que "foi aberto no passado dia x, o passadiço de Paramos", com a bênção das autoridades políticas e as declarações estéreis do costume. Adiante.
Gosto imenso da praia de Paramos, creio mesmo ser o último reduto de tranquilidade nas praias de Espinho e um local de contacto privilegiado com a natureza, apesar da farta imundície na lagoa/barrinha. Mas gostaria de ver um projecto um pouco mais ousado ser oposto em prática naquela zona, não obstante os melhoramentos que têm sido feitos nos últimos anos, nomeadamente com a colocação de apoios de praia, bares e vigilância.
Por exemplo, seria insensato, largas dezenas de anos depois de ter sido permitida a construção ilegal junto à orla costeira e em plena área dunar, requalificar e dar alguma harmonia arquitectónica àquela zona? Seria impossível melhorar as vias de acesso ao local, assim como as condições de estacionamento? Seria difícil a promoção de acções de sensibilização ecológica ou a criação de um centro de interpretação ambiental, promovendo uma integração maior com a área protegida da lagoa? Seria exequível uma modernização dos espaços comerciais que existem em torno da praia?
Estas questões podem ter uma resposta positiva e eficaz, se houver vontade política para tal. Porque, de que serve a criação de um passadiço se tudo o que o envolve não funciona?

muda de vida

Aos leitores mais incautos: não, o cidade aos quadradinhos não é o autor deste vídeo. Mas podia perfeitamente ser. aa

festa na vilória

Um dia chuvoso de Novembro, altifalantes enérgicos a bramir a Cabana do Cid pela manhã, sérias dificuldades para meter o carro na garagem e para adormecer à noite e luzes berrantes a entrarem pela janela do quarto só podem querer dizer uma coisa: está aí o São Martinho.
Anta, a minha freguesia, está em festa.

Mas calma que nem tudo são más notícias. Domingo vou poder ouvir Ágata sem ter que sair de casa. Roam-se lá de inveja, vá.
aa

12.11.08

A propósito do Cinanima


Não sou o Álvaro Sabença - nem pretendo ser, valha a verdade - mas a propósito da abertura do Cinanima, o maior acontecimento cultural da cidade, gostaria de tecer algumas considerações, sobre o próprio festival e a sua inserção no contexto cultural espinhense.
O Cinanima tem um relevo inatacável, consagrado por mais de trinta anos de história e é, a par com o FIME, o único evento de projecção internacional a acontecer anualmente em Espinho. Tem uma inquestionável qualidade estética e artística que o posiciona como um dos festivais europeus de referência, no domínio do cinema de animação. Tem, por fim, uma dinâmica organizativa muito sólida, promovendo sessões paralelas à competição, workshops, exposições, entre outras actividades periféricas ao festival per si.
Porém, na minha opinião, não tem o efeito mobilizador e agregador que poderia ter, para e com a cidade. Neste ponto, não consigo ser científico e detectar as causas exactas. Não me parece que seja uma falha da organização, no sentido estrito da expressão mas creio, no entanto, que algo poderia ser melhorado a este nível. Por exemplo, procurando envolver, no grande "chapéu" do Cinanima, espaços diversificados dentro da própria cidade, dando-lhes novas roupagens, formas e cores que se integrassem no contexto estético do festival. Dinamizando eventos multidisciplinares - mesmo eventos de rua -, na área da música, das instalações multimédia, entre outras. Criando um verdadeiro happening, que envolvesse toda a cidade, a enriquecesse culturalmente - e tão sedenta de bons eventos culturais que ela anda - e não circunscrevesse a sua actividade ao Centro Multimeios. Mesmo aí, gostaria de ver a zona circundante ao Multimeios com uma outra animação envolvente, que potenciasse o festival e cativasse o público.
Não quero, com estas notas, menosprezar o excelente trabalho que tem sido feito no Cinanima, muito menos beliscar a sua importância no contexto cultural de Espinho e do país. Creio que o festival tem evoluído favoravelmente e que o facto de ter ao seu dispor, uma estrutura polivalente como o Multimeios, só o engrandeceu e valorizou ainda mais. No entanto, acredito piamente que se poderia tornar num evento de maior grandiosidade, se fosse promovido um maior entrosamento com a cidade e uma outra envolvência por altura da sua realização.
N.S.


P.S. Para quem não percebeu a tirada relativa ao senhor Álvaro Sabença, acrescento que o proprietário de locais de referência como o karting e a discoteca Àbox, veio a terreiro tecer considerações sobre a vida cultural em Espinho.

11.11.08

Só mesmo o estádio é que vai arrancar

Pelo facto de hoje se assinalar o 94º aniversário do Sp. Espinho e o reinício das obras do estádio, resolvi escrever sobre algo que me intrigou na leitura da entrevista de auto-proclamação do presidente do clube, na última edição da Defesa de Espinho.
Nas entrelinhas do seu discurso (não creio que tenha sido directo mas enfim...), Rodrigo dos Santos adianta algumas novidades que podem ajudar a perceber como se processam as coisas por cá. A prioridade, num grandioso clube como o SCE, ao contrário de outros que têm primado pela diferença, não é a formação de jovens atletas que mais tarde venham a alimentar e potenciar as modalidades seniores. É, antes, a construção do estádio, para eleitor ver. Para mais tarde, quando chegarem "os apoios estatais", deixar-se-á a construção das infra-estruturas que servirão as camadas jovens das várias modalidades, incluindo o Futebol e a que mais títulos e historial tem garantido ao clube, o Voleibol. Nesta última, o raciocínio da direcção do clube parece-me lógico, até porque foi construído um pavilhão em Anta que, a não ter outra utilização, como parece o caso, servirá exclusivamente para acolher as modalidades, ditas amadoras, do Sp. Espinho.
Mas o que mais confusão me faz na referida entrevista, é quando o presidente diz o seguinte: "julgamos que teremos de reequacionar a possibilidade de, em sede da autarquia de Silvalde, ser encontrada uma solução com o arrelvamento do campo de futebol, onde têm evoluído (terão mesmo evoluído senhor presidente?] gerações de jovens jogadores". Brilhante.
Não só não haverá pavilhão para as modalidades indoor, como também não haverá campos relvados, na estrutura do novo estádio, para as camadas de formação (agora sim) evoluírem, relativamente aquilo foram as últimas décadas do futebol jovem do clube. Esta situação reveste-se de uma importância crucial, não só porque revela um desprezo inadmissível pelas largas dezenas de jovens que jogam nos escalões de jovens, como também manifesta uma tremenda falta de visão relativamente àquilo que são os desafios de um clube moderno e orientado para o futuro.

8.11.08

distinção


god bless america

Passei este Verão um tanto ou quanto deslumbrada com as noites políticas norte-americanas. Logo eu que não sou, nem nunca fui especialmente americanófila. No entanto, não sou capaz de não me sentir pequenina perante aquela grandeza, aquela crença e sentido de Estado, aquele envolvimento e aqueles discursos só ao alcance dos verdadeiros estadistas.

Deslumbrada é o termo exacto, especialmente quando pretendo comparar aquela realidade com a nossa. Não estou a falar do espectáculo de pirotecnia que são as Convenções. Nem da inadmissível intromissão na vida privada dos candidatos, na tentativa de perscrutar os respectivos podres para os usar como arma de arremesso político. Muito daquele showbiz terá pouco de verdadeira política, pelo menos aos meus olhos de cidadã europeia. Mas há imensa coisa que podemos assimilar e continuamos a julgar que não, que a nossa democracia é mais sólida e sofisticada que a deles. Pois sim.

Há, de facto, muitas coisas a separar o Velho Continente da América do Norte ao nível da política. Na Europa, por exemplo, somos pouco sensíveis aos valores da Família e da Religião na escolha dos nossos governantes, coisa que por lá está longe de ser irrelevante. Por outro lado, nós por cá escolhemo-los sem saber ao certo quem vai compor o resto do cortejo ao longo de quatro anos, desprezando se esses senhores e senhoras são bem casados, homens e mulheres de Família e com um passado irrepreensível. Os americanos sobrevalorizam os padrões de conduta dos seus políticos e ainda não foram capazes de perceber que comportamentos do quotidiano privado não devem projectar-se na vida pública por forma a determinar a capacidade para a assunção de responsabilidades políticas. Nisto, julgo, somos menos hipócritas e menos pudicos.
Provavelmente os europeus exigem menos, porque também esperam menos dos seus políticos.

Há muita coisa que temos de – ou devemos – absorver daquela imensa cultura. À Europa em geral e a Portugal em especial, na minha perspectiva, falta aquele je ne sais quoi de sensibilidade estadista, de sentimento de pertença, de solidariedade quase incondicional perante as adversidades. Ou, por outras palavras, uma certa consciência cívica e um requinte político à generalidade das suas gentes que – e é com tristeza que o digo – vislumbramos num pequeno estado americano sulista e temos dificuldade em encontrar nas ruas cosmopolitas do nosso país.

Surpreendentemente, a América está sempre a dar-nos lições, quer isso nos doa ou não, quer concordemos ou não com opções concretas que tomam, mormente ao nível da propalada política externa. Nestas eleições e face ao cenário de crise instalado isso foi particularmente evidente.
Por serem capazes de serem bem sucedidos numa democracia de proximidade, por não haver tema que escape ao escrutínio público norte-americano e, sobretudo, por saberem procurar consensos nas grandes questões do país e colocá-las à frente de qualquer partido ou ideologia, tiro o meu chapéu àquela Nação.
Sempre um passo à frente a definir tendências e nós – pequeninos, pequeninos – a achar que eles não sabem fazer política.
Espreitem apenas o último discurso do candidato republicano e digam-me daqui a quantos séculos estarão os nossos dirigentes locais, regionais ou nacionais à altura daquela atitude. Se MacCain não o tem dito, ninguém suspeitaria que se trata do discurso de quem acaba de ser derrotado na eleição para Presidente dos Estados Unidos da América. No mínimo, inspirador.
aa

5.11.08

um belíssimo cartão de visitas III

Nem de propósito. A imprensa local deu-nos conta por estes dias do estado das coisas relativamente a esse (eterno) empecilho que constitui a rotunda do IC24.
A julgar por outros exemplos recentes em que a promessa de uma solução breve tarda (e de que maneira) a aparecer, não sei até que ponto isto pode descansar os espinhenses. Mas temos uma data, o que já não é mau: prometem um desfecho até ao final do ano.
Boas novas? Isso depende da perspectiva. A correr bem, já temos mais oito Segundas-Feiras de desespero rodoviário para entrar e sair da cidade. Para quem como eu passou os meses de Julho e de Agosto em Espinho são boas notícias...
Para a história fica a incúria da oposição em pressionar, a displicência do Executivo para com os cidadãos e, sobretudo, o inadmissível abandono do Instituto Nacional de Estradas.
aa

4.11.08

da relatividade

Pelo Jornal de Espinho fiquei a saber que, para o nosso Presidente da Câmara, o Cineteatro São Pedro "não é uma obra arquitectónica" e tem uma "importância relativa" no contexto dos equipamentos da cidade.
E é quando ouço estas coisas que finalmente se faz luz e percebo o que Espinho é hoje: o espelho destas "opiniões"; o desprezo pelas relativas referências da cidade.
aa

Um belíssimo cartão de visita II - "Finalmente!"

Foi uma rotunda coincidência!!! Na passada semana coloquei aqui um post sobre a rotunda da saída da A29 e não é que na manhã seguinte surgia, em manchete garrafal, num dos jornais da terra, que as obras na referida rotunda iam arrancar até ao final deste ano. “Finalmente!”, diziam.
Fiquei estupefacto com aquela notícia. Desfolhei o jornal à procura de pormenores, sobre quem tinha proferido tal decisão, quem seriam as entidades responsáveis pela obra, quais os estudos já efectuados, qual a posição da autarquia sobre o assunto. Enfim, gostava de saber mais, mas infelizmente não obtive grandes respostas. O referido jornal é pródigo em títulos sensacionalistas, que no seu interior não têm qualquer consequência em termos de tratamento noticioso.
Pela informação que consegui obter, tratou-se de uma afirmação do presidente da Câmara, José Mota, na última sessão da Assembleia Municipal, após solicitação de um dos vogais da oposição. E isso, como é evidente, deixa-nos muito mais esclarecidos.

Desta....será de vez?


Está prometido um estádio de futebol em Espinho há cerca de duas décadas. Num período de decadência do futebol do Sp. Espinho, resolveram os seus responsáveis lançar a primeira pedra do novo recinto, em Abril de 2006 - já lá vão dois anos e meio!!! A charada continuou nos meses seguintes com uma conveniente terraplanagem para levar os papalvos a exclamar: "Desta é que é!". Como facilmente se adivinha, não foi daquela....mas aparentemente, será agora.
Os dirigentes do Sp. Espinho reuniram-se na passada semana para comunicar, internamente, o arranque das obras na semana que vem, coincidindo a data com a comemoração do aniversário do clube, a 11 de Novembro. A situação afigura-se relativamente normal e até de um raro simbolismo no clube da nossa terra, no entanto, ela teve contornos burlescos porque algumas das suas altas patentes não deram grande relevância ao comunicado e até se mostraram pouco convencidos da sua veracidade. Quais acólitos de S. Tomé, querem ver para crer. Não os censuro.
É uma situação insólita mas que seria de prever, dada verdadeira esquizofrenia que paira sobre a questão do novo estádio há largos anos. Francamente, acho que será mesmo desta, até porque 2009 é ano de eleições e aqueles belos terraplanados não ajudam nada à mobilização do eleitorado afecto ao clube tigre. Mas o melhor mesmo é ir acompanhando a evolução do estádio-gate com prudência.
N.S.

30.10.08

a festa que pode ser maior

É sintomático e absolutamente revelador do estado das coisas da nossa cidade que sejam cada vez menos aqueles que ainda têm pachorra para aquilo que nos oferecem nas Festas em Honra da Nossa Senhora da Ajuda, o festim anual cá da terra, que tem lugar no terceiro fim-de-semana de Setembro. Precisamente à data destas santas festividades, duas ou três comemorações banais e realizáveis em qualquer outra altura relegam-na para segundo plano e dispersaram da terra os seus concidadãos.

Este ano não fui lá, mas posso imaginar que os níveis de adesão tenham sido muito aquém dos doutros tempos, a julgar pelo que acontece nos últimos anos. O que é triste. Ainda me lembro do tempo em que todos, novos e velhos, esperavam ansiosamente pelo festival. Ou então essa altura – em que eu ainda tirava algum prazer em lá ir – coincidiu com os tempos em que precisava de uma desculpa para ficar na rua até às tantas e os meus pais achavam que as festas da cidade eram um bom motivo... Mas diga-se em abono da verdade que não: havia verdadeira diversão e as pessoas enchiam as ruas do centro da cidade em alegre convívio.

Sucede que há dois ou três anos surgiu esse evento sublime que é a Festa de Cerveja, que dura três semanas em Agosto e não passa de um arraial de música pimba. Os artistas da terra brindam-nos com as suas actuações e a Comissão de Festas vai ainda repescar as bandas nacionais mais improváveis. Bem, sejamos optimistas: pelo menos não pagamos 10 mil euros para o Tony Carreira despejar meia dúzia de hits e o orçamento anual camarário submergir a uma velocidade pouco recomendável.
Ora, é aqui que reside o busílis da questão. É que o nosso Executivo Camarário, em vez de aproveitar – que está tudo de férias, mais desocupado e menos resistente à cultura –, para fazer umas coisas giras, nada: tomem lá música pimba que para os vossos padrões de cultivação chega e sobra. Por estas bandas ninguém se esforça sequer por editar um mero periódico para enganar as almas mais insatisfeitas do concelho. Para quê? Interessa é incentivar a cultura pimba e os seus enérgicos tentáculos.

Não há aqui qualquer espécie de preconceito, acreditem. A mim também me agrada passar um serão a escutar o terrível “bacalhau da Maria” ou a trautear “a garagem da vizinha”. Aliás, é o que faço alegremente desde miúda em arraiais de aldeia. Simplesmente desagrada-me que a nossa festa, numa cidade com um enorme potencial como Espinho, esteja inevitavelmente condenada a ser isso. Não há alternativas, as pessoas não podem escolher outra programação, o que a meu ver potencia uma mentalidade que afasta as festas populares daquilo que verdadeiramente deviam ser – lugares de convívio para todos, de animação, de salutar entretenimento. Em vez disso, transformam-nas num lugar de culto exclusivo dessa praga social que se chama a cultura pimba.

Como se isto não bastasse, nos últimos anos a Nossa Senhora da Ajuda teve de ser deslocada do sítio onde habitualmente se realizava, por causa das obras de enterramento da linha-férrea. Claro que isso também constitui um factor desmobilizador dos espinhenses, que agora têm que se deslocar praticamente para São Félix da Marinha. Apesar do local fornecer boas condições a nível de espaço, está longe de ser atraente quando comparado com as ruas principais da cidade. Resta-me esperar que já no próximo ano possa regressar ao sítio onde pertence. Se a Festa da Cerveja tem honras de “festa maior” e poiso nos Paços do Concelho, faz todo o sentido que as comemorações em honra da Padroeira da cidade mereçam, pelo menos!, tratamento idêntico. Com isso, pode ser os espinhenses voltem a sentir-se próximos da festividade. Se não for por identificação cultural, seja pelo menos pela proximidade física.

É por estas e por outras que nos dias que correm ouço com deleite aquilo que outrora escutava com nostalgia: o triste ressoar dos últimos foguetes que anunciam o fim da festa. Para o ano há mais. Melhor... receio que não.
aa

29.10.08

Um belíssimo cartão de visita




Este é o estrondoso cenário da principal via de acesso à cidade de Espinho. Poderia ser uma qualquer obra provisória, incómoda mas necessária, de requalificação ou de manutenção da via pública. No entanto, não é bem disso que se trata.
Ao que parece foram detectadas irregularidades no subsolo que determinaram a vedação e o encerramento de uma faixa de rodagem na rotunda que dá acesso à A29. No entanto, o que ninguém explica - nem interessa explicar, que isso de dar explicações ao cidadão é uma coisa que aborrece quem tem de trabalhar - é porque é que as autoridades competentes ainda não resolveram a situação....há mais de um ano. Não se trata - volto a frisar - de uma via de acesso normal. Esta é a rotunda que escoa o trânsito proveniente das duas saídas de auto-estrada que servem o concelho, situa-se no eixo viário mais movimentado da cidade e é o triste e infeliz cartão de visita de Espinho para quem vem de fora.
Esta, no entanto, não é uma situação excepcional, como podemos verificar noutros acessos rodoviários da cidade, no entanto e pela sua importância no contexto urbano não se percebe como foi progredindo tal manifestação de incúria e de desleixo. Não posso deixar de fazer uma achega ao poder político que pactuou com esta pachorrice e que deixou que, mais de um ano depois, Espinho ainda tivesse a sua principal via de acesso obstruída. Por fim, e não me surpreendendo de todo, causa-me alguma espécie, a moderação com que a imprensa local trata esta vergonha pública, escusando-se a fazer um trabalho de fundo sobre a questão, dando a conhecer os seus responsáveis, as suas consequências e as soluções programadas, caso elas existam.
N.S.

28.10.08

manifesto

A ideia de criar este pequeno espaço acabou por ser minha, mas o espírito é todo do meu parceiro de escrita. Por lhe reconhecer, entre muitos outros, o talento da crítica, e sobretudo por partilharmos aquela devoção por esta cidade, estou certa que a parceria pode resultar enquanto lugar de saudável bate-boca e partilha de ópticas.
É com desapontamento e uma boa dose de revolta que constatamos o fosso cada vez maior entre aquilo que Espinho é e o que podia ser. Ainda que muitas vezes estejamos de lados opostos na forma como solveríamos as lacunas da nossa cidade, une-nos o mesmo propósito: o de ambicionar o melhor para este pequeno burgo, aos nossos olhos tantas vezes desconsiderado e subaproveitado.
A todos quantos pachorrentamente nos lerem, fica o desafio de não deixarem de participar.
Nós por cá, sem pretensiosismo e cientes da importância (muito) relativa das nossas convicções, temos o mesmo propósito: partilhar as nossas opiniões de forma assumidamente tendenciosa, discutir incessantemente, discordar algumas vezes e convergir muitas. Sempre com a nossa cidade aos quadradinhos no horizonte.
aa

Só para começar...

Espinho, por estes dias, é uma cidade merecedora de uma aturada reflexão. A cidade em quadrícula, outrora padrão de organização urbanística, rainha de beleza - qual Sarah Palin em versão geográfica -, requintada estância balnear e exemplo cosmopolita, está triste, cinzenta e imóbil. A falta de massa crítica preocupa-nos e, por isso, resolvemos criar um espaço de opinião que aponte o dedo ao que está mal, àquilo de que não se fala nem se discute e que ninguém, pelos vistos, presta grande atenção. Afinal é para isso mesmo que servem os blogues e deveria -"deveria", porque os compromissos políticos não o permitem - ser essa, também, a preocupação da imprensa local, de cuja a análise nos ocuparemos semanalmente. Um bem-haja a todos os que tiverem paciência para nos aturar.