23.4.09

lá no gueto

As intenções políticas de quem levantou a questão - peregrina e mundividente - dos estendais no bairro piscatório, são por demais conhecidas. Para quem, como eu, visita assiduamente aquela zona da cidade durante todo o ano (e não somente de quatro em quatro anos), torna-se no mínimo redutor falar em estendais, ao observar a sua penosa degradação. Os problemas do bairro são muito mais profundos e bem menos paroquiais do que esse.
Nos últimos anos, pelo menos duas grandes obras, estruturantes do ponto de vista urbanístico, passaram ao lado do bairro piscatório: a requalificação da marginal sul e o rebaixamento da linha-férrea. Se o primeiro caso ainda poderá ter solução (embora ela não seja para breve e duvido que, quando chegar, vá adiantar alguma coisa), no segundo, trata-se de um atentado urbano que hipotecou por muitos e bons anos o desenvolvimento daquela povoação e, pior do que isso, que a guetizou por completo. Hoje a zona mais tradicional da cidade, o pequeno núcleo habitacional que outrora deu origem a Espinho, que albergou a maior indústria de conserva do país, que mantém laços de identificação muito fortes com o mar e com a pesca (também estes votados ao esquecimento pelo poder político); não passa disso mesmo: um gueto. Marginal, soturno, degradado e esquecido. Olhamos aqui ao lado e vemos o que o concelho de Gaia fez com o seu "bairro piscatório": a Afurada é hoje um lugar aprazível, limpo e organizado que soube reciclar e potenciar as suas tradições. Olhamos ainda mais a Norte e vemos o que Vila do Conde e a Póvoa fizeram nas Caxinas...em Espinho interessa mais acautelar os interesses do final do mês!

1 comentário:

tb disse...

Dentro de decadas vão reescrever a historia de espinho, e afirmar que foram os pedantes endinheirados que vieram dos concelhos vizinhos, com o seu novo riquismo, que fizeram Espinho.
Os verdadeiros espinhenses nativos, os vareiros, estão a ser cada vez mais marginalizados e podem desaparecer nas proximas decadas, pois estao a ser entalados entre um golf (muito mais inutil) e uma exploração urbanistica, que apesar de ter sido mais feroz no passado, continua selvagem.
Mas quem comanda os destinos economicos deste pais é a banca e a industria da construção civil, o resto é treta...