Passei este Verão um tanto ou quanto deslumbrada com as noites políticas norte-americanas. Logo eu que não sou, nem nunca fui especialmente americanófila. No entanto, não sou capaz de não me sentir pequenina perante aquela grandeza, aquela crença e sentido de Estado, aquele envolvimento e aqueles discursos só ao alcance dos verdadeiros estadistas.
Deslumbrada é o termo exacto, especialmente quando pretendo comparar aquela realidade com a nossa. Não estou a falar do espectáculo de pirotecnia que são as Convenções. Nem da inadmissível intromissão na vida privada dos candidatos, na tentativa de perscrutar os respectivos podres para os usar como arma de arremesso político. Muito daquele showbiz terá pouco de verdadeira política, pelo menos aos meus olhos de cidadã europeia. Mas há imensa coisa que podemos assimilar e continuamos a julgar que não, que a nossa democracia é mais sólida e sofisticada que a deles. Pois sim.
Há, de facto, muitas coisas a separar o Velho Continente da América do Norte ao nível da política. Na Europa, por exemplo, somos pouco sensíveis aos valores da Família e da Religião na escolha dos nossos governantes, coisa que por lá está longe de ser irrelevante. Por outro lado, nós por cá escolhemo-los sem saber ao certo quem vai compor o resto do cortejo ao longo de quatro anos, desprezando se esses senhores e senhoras são bem casados, homens e mulheres de Família e com um passado irrepreensível. Os americanos sobrevalorizam os padrões de conduta dos seus políticos e ainda não foram capazes de perceber que comportamentos do quotidiano privado não devem projectar-se na vida pública por forma a determinar a capacidade para a assunção de responsabilidades políticas. Nisto, julgo, somos menos hipócritas e menos pudicos.
Provavelmente os europeus exigem menos, porque também esperam menos dos seus políticos.
Provavelmente os europeus exigem menos, porque também esperam menos dos seus políticos.
Há muita coisa que temos de – ou devemos – absorver daquela imensa cultura. À Europa em geral e a Portugal em especial, na minha perspectiva, falta aquele je ne sais quoi de sensibilidade estadista, de sentimento de pertença, de solidariedade quase incondicional perante as adversidades. Ou, por outras palavras, uma certa consciência cívica e um requinte político à generalidade das suas gentes que – e é com tristeza que o digo – vislumbramos num pequeno estado americano sulista e temos dificuldade em encontrar nas ruas cosmopolitas do nosso país.
Surpreendentemente, a América está sempre a dar-nos lições, quer isso nos doa ou não, quer concordemos ou não com opções concretas que tomam, mormente ao nível da propalada política externa. Nestas eleições e face ao cenário de crise instalado isso foi particularmente evidente.
Por serem capazes de serem bem sucedidos numa democracia de proximidade, por não haver tema que escape ao escrutínio público norte-americano e, sobretudo, por saberem procurar consensos nas grandes questões do país e colocá-las à frente de qualquer partido ou ideologia, tiro o meu chapéu àquela Nação.
Sempre um passo à frente a definir tendências e nós – pequeninos, pequeninos – a achar que eles não sabem fazer política.
Espreitem apenas o último discurso do candidato republicano e digam-me daqui a quantos séculos estarão os nossos dirigentes locais, regionais ou nacionais à altura daquela atitude. Se MacCain não o tem dito, ninguém suspeitaria que se trata do discurso de quem acaba de ser derrotado na eleição para Presidente dos Estados Unidos da América. No mínimo, inspirador.
Sempre um passo à frente a definir tendências e nós – pequeninos, pequeninos – a achar que eles não sabem fazer política.
Espreitem apenas o último discurso do candidato republicano e digam-me daqui a quantos séculos estarão os nossos dirigentes locais, regionais ou nacionais à altura daquela atitude. Se MacCain não o tem dito, ninguém suspeitaria que se trata do discurso de quem acaba de ser derrotado na eleição para Presidente dos Estados Unidos da América. No mínimo, inspirador.
aa
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