30.10.08

a festa que pode ser maior

É sintomático e absolutamente revelador do estado das coisas da nossa cidade que sejam cada vez menos aqueles que ainda têm pachorra para aquilo que nos oferecem nas Festas em Honra da Nossa Senhora da Ajuda, o festim anual cá da terra, que tem lugar no terceiro fim-de-semana de Setembro. Precisamente à data destas santas festividades, duas ou três comemorações banais e realizáveis em qualquer outra altura relegam-na para segundo plano e dispersaram da terra os seus concidadãos.

Este ano não fui lá, mas posso imaginar que os níveis de adesão tenham sido muito aquém dos doutros tempos, a julgar pelo que acontece nos últimos anos. O que é triste. Ainda me lembro do tempo em que todos, novos e velhos, esperavam ansiosamente pelo festival. Ou então essa altura – em que eu ainda tirava algum prazer em lá ir – coincidiu com os tempos em que precisava de uma desculpa para ficar na rua até às tantas e os meus pais achavam que as festas da cidade eram um bom motivo... Mas diga-se em abono da verdade que não: havia verdadeira diversão e as pessoas enchiam as ruas do centro da cidade em alegre convívio.

Sucede que há dois ou três anos surgiu esse evento sublime que é a Festa de Cerveja, que dura três semanas em Agosto e não passa de um arraial de música pimba. Os artistas da terra brindam-nos com as suas actuações e a Comissão de Festas vai ainda repescar as bandas nacionais mais improváveis. Bem, sejamos optimistas: pelo menos não pagamos 10 mil euros para o Tony Carreira despejar meia dúzia de hits e o orçamento anual camarário submergir a uma velocidade pouco recomendável.
Ora, é aqui que reside o busílis da questão. É que o nosso Executivo Camarário, em vez de aproveitar – que está tudo de férias, mais desocupado e menos resistente à cultura –, para fazer umas coisas giras, nada: tomem lá música pimba que para os vossos padrões de cultivação chega e sobra. Por estas bandas ninguém se esforça sequer por editar um mero periódico para enganar as almas mais insatisfeitas do concelho. Para quê? Interessa é incentivar a cultura pimba e os seus enérgicos tentáculos.

Não há aqui qualquer espécie de preconceito, acreditem. A mim também me agrada passar um serão a escutar o terrível “bacalhau da Maria” ou a trautear “a garagem da vizinha”. Aliás, é o que faço alegremente desde miúda em arraiais de aldeia. Simplesmente desagrada-me que a nossa festa, numa cidade com um enorme potencial como Espinho, esteja inevitavelmente condenada a ser isso. Não há alternativas, as pessoas não podem escolher outra programação, o que a meu ver potencia uma mentalidade que afasta as festas populares daquilo que verdadeiramente deviam ser – lugares de convívio para todos, de animação, de salutar entretenimento. Em vez disso, transformam-nas num lugar de culto exclusivo dessa praga social que se chama a cultura pimba.

Como se isto não bastasse, nos últimos anos a Nossa Senhora da Ajuda teve de ser deslocada do sítio onde habitualmente se realizava, por causa das obras de enterramento da linha-férrea. Claro que isso também constitui um factor desmobilizador dos espinhenses, que agora têm que se deslocar praticamente para São Félix da Marinha. Apesar do local fornecer boas condições a nível de espaço, está longe de ser atraente quando comparado com as ruas principais da cidade. Resta-me esperar que já no próximo ano possa regressar ao sítio onde pertence. Se a Festa da Cerveja tem honras de “festa maior” e poiso nos Paços do Concelho, faz todo o sentido que as comemorações em honra da Padroeira da cidade mereçam, pelo menos!, tratamento idêntico. Com isso, pode ser os espinhenses voltem a sentir-se próximos da festividade. Se não for por identificação cultural, seja pelo menos pela proximidade física.

É por estas e por outras que nos dias que correm ouço com deleite aquilo que outrora escutava com nostalgia: o triste ressoar dos últimos foguetes que anunciam o fim da festa. Para o ano há mais. Melhor... receio que não.
aa

29.10.08

Um belíssimo cartão de visita




Este é o estrondoso cenário da principal via de acesso à cidade de Espinho. Poderia ser uma qualquer obra provisória, incómoda mas necessária, de requalificação ou de manutenção da via pública. No entanto, não é bem disso que se trata.
Ao que parece foram detectadas irregularidades no subsolo que determinaram a vedação e o encerramento de uma faixa de rodagem na rotunda que dá acesso à A29. No entanto, o que ninguém explica - nem interessa explicar, que isso de dar explicações ao cidadão é uma coisa que aborrece quem tem de trabalhar - é porque é que as autoridades competentes ainda não resolveram a situação....há mais de um ano. Não se trata - volto a frisar - de uma via de acesso normal. Esta é a rotunda que escoa o trânsito proveniente das duas saídas de auto-estrada que servem o concelho, situa-se no eixo viário mais movimentado da cidade e é o triste e infeliz cartão de visita de Espinho para quem vem de fora.
Esta, no entanto, não é uma situação excepcional, como podemos verificar noutros acessos rodoviários da cidade, no entanto e pela sua importância no contexto urbano não se percebe como foi progredindo tal manifestação de incúria e de desleixo. Não posso deixar de fazer uma achega ao poder político que pactuou com esta pachorrice e que deixou que, mais de um ano depois, Espinho ainda tivesse a sua principal via de acesso obstruída. Por fim, e não me surpreendendo de todo, causa-me alguma espécie, a moderação com que a imprensa local trata esta vergonha pública, escusando-se a fazer um trabalho de fundo sobre a questão, dando a conhecer os seus responsáveis, as suas consequências e as soluções programadas, caso elas existam.
N.S.

28.10.08

manifesto

A ideia de criar este pequeno espaço acabou por ser minha, mas o espírito é todo do meu parceiro de escrita. Por lhe reconhecer, entre muitos outros, o talento da crítica, e sobretudo por partilharmos aquela devoção por esta cidade, estou certa que a parceria pode resultar enquanto lugar de saudável bate-boca e partilha de ópticas.
É com desapontamento e uma boa dose de revolta que constatamos o fosso cada vez maior entre aquilo que Espinho é e o que podia ser. Ainda que muitas vezes estejamos de lados opostos na forma como solveríamos as lacunas da nossa cidade, une-nos o mesmo propósito: o de ambicionar o melhor para este pequeno burgo, aos nossos olhos tantas vezes desconsiderado e subaproveitado.
A todos quantos pachorrentamente nos lerem, fica o desafio de não deixarem de participar.
Nós por cá, sem pretensiosismo e cientes da importância (muito) relativa das nossas convicções, temos o mesmo propósito: partilhar as nossas opiniões de forma assumidamente tendenciosa, discutir incessantemente, discordar algumas vezes e convergir muitas. Sempre com a nossa cidade aos quadradinhos no horizonte.
aa

Só para começar...

Espinho, por estes dias, é uma cidade merecedora de uma aturada reflexão. A cidade em quadrícula, outrora padrão de organização urbanística, rainha de beleza - qual Sarah Palin em versão geográfica -, requintada estância balnear e exemplo cosmopolita, está triste, cinzenta e imóbil. A falta de massa crítica preocupa-nos e, por isso, resolvemos criar um espaço de opinião que aponte o dedo ao que está mal, àquilo de que não se fala nem se discute e que ninguém, pelos vistos, presta grande atenção. Afinal é para isso mesmo que servem os blogues e deveria -"deveria", porque os compromissos políticos não o permitem - ser essa, também, a preocupação da imprensa local, de cuja a análise nos ocuparemos semanalmente. Um bem-haja a todos os que tiverem paciência para nos aturar.