Quem assistisse à mesma sessão que eu no Cinanima, ficava com a impressão de que Espinho é uma cidade com vida cultural. Sala esgotada, animação no foyer do Multimeios, conversas amenas sobre o festival, música ao vivo, exposições paralelas, etc. Subitamente, a cidade mobilizava-se em torno de um acontecimento cultural de qualidade e com público. Acontece que, com grande pena minha, aquele exemplo não constitui a regra por cá.
Espinho reúne condições – que, por exemplo (e a comparação não é gratuita), Santa Maria da Feira não tem, e dificilmente terá nos próximos anos, para ter uma oferta cultural rica e diversificada. Tem infra-estruturas, tem público interessado e consumidor de produtos culturais, tem turismo, tem praia e Verão, mas falta-lhe o mais importante: não tem vontade política para que isso aconteça. Agora e pegando na comparação de há pouco, veja-se o fosso olímpico que distancia Espinho e Feira neste pormenor. Aposto que não há um espinhense que ainda não tenha ido à Viagem Medieval. Aposto que há milhares de espinhenses que nem se lembram que o Cinanima existe (e nem preciso de recuperar as razões que aqui já invoquei para justificar esta análise).
Podem-me colocar todos os argumentos para legitimar esta situação. Estamos perto de um enorme pólo cultural que é o Porto (a Feira também está), o público em Espinho é escasso (deve ser por isso que sempre que vou a um concerto ao Porto vejo dezenas de pessoas de Espinho), não existem espaços suficientes (mas...o Multimeios?....o defunto S. Pedro?....o decrépito FACE?....o Auditório da Academia?)....entre muitos outros absolutamente desculpabilizantes daquela que é a única justificação para a ausência de uma política cultural estruturante e coerente: incompetência política.
Peguemos no caso do Centro Multimeios. Foi inaugurado em 2000, como uma infra-estrutura polivalente, que reunia, ao mesmo tempo, cinema, ciência, arte, música, etc. Logo à partida, partiram de um pressuposto errado: julgou-se que haveria público para o cinema, ainda para mais para um género de cinema (o de grande formato) que não existia no país e ao qual o público não iria ligar patavina, como veio a acontecer. Para além disso, faltou outra óbvia asserção: numa altura em que o cinema explodia nas grandes superfícies, seria um suicídio financeiro apostar no cinema comercial, com apenas uma sala e a oferta de um filme por semana. Mas, o maior erro de todos, é quase desconhecido da maioria das pessoas que contemplam, de fora, a (já algo gasta) beleza do edifício: a acústica do auditório do Multimeios não foi preparada para receber mais nada...a não ser cinema. Ou seja, tudo o que for peça de teatro ou espectáculo de música, nunca terá condições acústicas ideais para se realizar naquele espaço. Para cúmulo (e até os responsáveis o admitem), as distribuidoras do circuito comercial de cinema obrigam a que o Multimeios faça duas exibições por dia, aniquilando qualquer possibilidade de o auditório ser usado para outros fins.
Creio que o exemplo é, por si só, elucidativo. Recentemente fui a Guimarães e visitei um espaço verdadeiramente multidisciplinar, em que (que luz terá iluminado os seus criadores?!!!) o mesmo edifício reúne um auditório, um café concerto, um club para musica electrónica, uma biblioteca....uffa....e uma galeria de arte. Em Espinho, uma coisa de cada vez: primeiro um "multimeios" inútil, depois e trinta metros ao lado, uma biblioteca! Notável.
26.11.08
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6 comentários:
é a cidade que temos... pensam coisas em grande que acabam por ser uma grande borrada...
Falta gente realmente interessada na cultura e no turismo para desenvolver a nossa cidade
Pensar que um dia Espinho terá espaços culturais tão dinamizados como os que referiste, para já não passa de um mero sonho. De facto, colocaste muito bem a questão: como se constrói outro pólo cultural (a biblioteca) a 50 metros de outros (suposto) pólo cultural, que dá pelo nome de Centro Multimeios? Falta estruturação, querer, vontade, o que for. A verdade é que temos espaços não dinamizados por culpa de quem? Dos produtores culturais? Dos políticos? Da ausência de público? Dos dois primeiros, ainda acredito, do segundo penso que não. Como tu, também são várias as vezes que encontro espinhenses em concelhos como o Porto, Santa Maria da Feira, Aveiro, etc. Público há, ou cria-se, como tem feito o Auditório da Academia de Espinho, caso raro neste nosso burgo.
Para quando um post da AA?
Caríssimo anónimo....se me descodificar o que significa AA talvez publique alg coisa!
Ana Almeida diz-lhe alguma coisa?
Depois desta longa ausência estou de volta! :)
aa
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